Tireoide: o "painel de controle" do nosso corpo!

     Quando eu era pequena, minha mãe foi acometida por um câncer de tireoide. Felizmente, o diagnóstico foi precoce e, apesar do susto, não foi necessária a realização de tratamentos mais agressivos, tais como a quimioterapia ou a radioterapia. Contudo, ela precisou realizar uma tireoidectomia total: um tipo de cirurgia na qual se retira totalmente a glândula tireoide. Por essa razão, minha mãe começou a tomar um remédio composto por levotiroxina sódica, com o intuito de repor os hormônios que antes eram produzidos pela glândula.



    Algum tempo depois da cirurgia, minha mãe começou a apresentar alguns sintomas deveras curiosos. Sentia muito frio - ou muito calor-, ficava extremamente cansada ao realizar atividades que antes faria sem nem mesmo perceber, seu cabelo caia em grande volume. Algo de que eu me lembro bem é de que, nessa época, depois de um determinado horário, ela sempre se sentava no sofá - enrolando-se nas cobertas, independentemente de ser verão ou inverno - e dormia. Parecia uma espécie de ritual.
 
    Depois de um tempo, minha mãe se consultou novamente com um endocrinologista, e descobriu que a taxa de seus hormônios tireoidianos estava desregulada - algo que, inclusive, é comum entre pacientes submetidos à tireoidectomia total. Em virtude disso, seu metabolismo encontrava-se "desequilibrado", fazendo com que, por exemplo, ela se sentisse extremamente cansada, ou ainda, com muito frio, repentinamente.

    Nesse contexto, é interessante notar que esses sintomas mostram-se mais comuns do que muitos de nós imaginam, podendo ser notados, inclusive, em pessoas que não realizaram uma tireoidectomia. Nestes casos, tais podem ser causados por doenças como o hipotireoidismo e o hipertireoidismo
    Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), acredita-se que, no mundo, mais de 300 milhões de pessoas apresentam algum tipo de disfunção na tireoide, sendo que aproximadamente metade dessas não sabe que a tem. Além disso, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) estima que 15% da população brasileira manifesta algum problema na tireoide.


    Tendo isso em vista, a publicação desta semana trouxe algumas informações acerca da tireoide, o "painel de controle" do nosso metabolismo!

    🎙️ O tema desta semana foi inspirado no Episódio "Tireoide no Radar", produzido pelo podcast Mamilos. Nele, a endocrinologista Laura Sterian Ward indica os principais sintomas que circundam o hipotireoidismo, bem como possíveis tratamentos para a doença. Com efeito, é importante destacar que a doutora - bem como as apresentadoras do podcast - reforçam a necessidade de se consultar um médico especializado antes de se tirar qualquer conclusão a respeito de um sintoma ou uma doença.

    O que exatamente é o sistema endócrino?

    De modo bastante resumido, o sistema endócrino pode ser resumido enquanto o conjunto de glândulas que produzem e secretam hormônios em nossa corrente sanguínea


    A figura acima apresenta as glândulas endócrinas presentes no corpo de indivíduos do sexo masculino (esquerda) e feminino (direita). Com efeito, as glândulas consistem em estruturas especializadas da "confecção" - ou seja, na síntese -, bem como na secreção de determinadas substâncias. Sendo assim, no caso das glândulas endócrinas, as substâncias produzidas são os hormônios, os quais são secretados diretamente em nossa corrente sanguínea.

    

    Os hormônios, por sua vez, podem ser definidos enquanto os "mensageiros" do sistema endócrino, permitindo a comunicação entre células localizadas em diferentes partes do organismo. Assim, tais substâncias transportam, sob a forma de substâncias químicas, informações atreladas a regulação de diversos processos biológicos. Essa regulação, por sua vez, baseia-se em mecanismos de feedback - os quais eu mencionei na publicação "Como as formigas podem te ajudar a decidir o que assistir na Netflix?".

    De modo bastante informal, você pode imaginar que o sistema endócrino consiste em uma "troca de mensagens" constante entre as glândulas e os diversos órgãos que compõem o nosso organismo. Assim, a glândula seria o remetente, o qual envia diversas ordens ou pedidos para um destinatário - isto é, os órgãos sobre os quais exerce influência -, através dos hormônios: o "e-mail" exclusivo do nosso corpo ✉

    A tireoide: o "cérebro" do nosso sistema endócrino

    A expressão tireoide deriva da junção dos termos thyreós (a qual pode ser traduzida como "escudo") e oidés (que significa "forma de"). Sendo assim, a tireoide consiste em uma glândula endócrina - cuja forma se assemelha a de um escudo ou, ainda, a de uma borboleta - localizada na parte da frente de nosso pescoço. Com efeito, a tireoide é responsável por produzir os hormônios tireoidianos que, por sua vez, regulam nosso metabolismo. Sendo assim, a glândula influencia, direta ou indiretamente, diversos processos realizados por nosso organismo, tais como o gasto calórico, retenção de líquido, qualidade do sono, concentração e, no caso das mulheres, o ciclo menstrual.


    Nesse contexto, a tireoide regula o nosso metabolismo através da produção, e posterior liberação, dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). Além disso, a atividade da própria glândula é controlada por outros dois hormônios, o TRH, produzido pelo hipotálamo, e o TSH, produzido pela hipófise. 

    Sendo assim, a produção de TRH pelo hipotálamo estimula a produção de TSH pela hipófise, o qual, por sua vez, faz com que a tireoide produza os hormônios T3 e T4. Em situações, normais, a produção de TRH - e, consequentemente, do restante dos hormônios que fazem parte desse "ciclo" - é regulada por um mecanismo de feedback negativo, ou seja, a presença de grandes quantidades de T3 e T4 no organismo inibem a produção de TRH, evitando a ocorrência de concentrações exageradas dos hormônios tireoidianos. 

    Contudo, semelhante mecanismo de controle hormonal nem sempre funciona adequadamente. Nessas situações - as quais podem derivar de diversos fatores, que se estendem desde o consumo insuficiente de iodo até propensões genéticas - é comum o desenvolvimento de doenças como o hipertireoidismo e o hipotireoidismo



    No caso do hipotireoidismo, a glândula tireoide não produz os hormônios T3 e T4 em quantidades suficientes. Em razão disso, o metabolismo - e, consequentemente, a obtenção de energia - torna-se mais lenta, de modo que sintomas típicos são: cansaço e sonolência excessivos, aumento de peso e queda de cabelo. 
    Já em uma situação de hipertireoidismo, ocorre o contrário. A tireoide começa a "trabalhar em excesso", fazendo com que sejam produzidas quantidades exageradas dos hormônios tireoidianos. Em razão disso, o metabolismo torna-se extremamente acelerado, o que pode acarretar sintomas como: aumento da transpiração, mãos trêmulas, perda de peso, cansaço, assim como, em muitos casos, ansiedade e irritabilidade.

    Recomendação:

    Caso tenha se interessado sobre o funcionamento do sistema endócrino e deseje se aprofundar - ou, por que não, estudar? - mais o assunto, recomendo a leitura do Blog da SBEM. Nele, endocrinologistas de todo o país expõem - de forma simples e didática - diversas informações acerca do sistema endócrino, apresentando dados sobre doenças - e, inclusive, os resultados de algumas de suas pesquisas - atreladas a esse sistema que exerce um papel tão importante em nosso organismo.

    Esta publicação se baseou em dados retirados das seguintes fontes: 










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